Mário Carvalho de Jesus: o advogado dos queixadas

Mário Carvalho de Jesus, advogado queixada

Foto: AEL/UNICAMP

Mário Carvalho de Jesus nasceu em 02 de outubro de 1919, em Araguari (MG), e teve a sua vida marcada pela militância. 

Segundo relatos de quem o conheceu, o filho de Augusto de Jesus e Antonia Izabel de Jesus, se mostrava incansável na busca por uma sociedade mais igualitária. 

A vida de militante começou em 1942, quando passou a fazer parte da Ação Católica, por meio dos movimentos JUC – Juventude Universitária Católica e JOC – Juventude Operária Católica. 

Ao se formar em Direito, como advogado trabalhista, ganhou uma bolsa de estudos e foi viver na França. Lá, trabalhou em fábricas e teve a oportunidade de conhecer o sindicalismo francês, convivendo com o Movimento Operário Cristão.

O advogado volta ao Brasil e, influenciado pela pluralidade sindical e pelo conceito de contrato coletivo de trabalho, nota o quanto era prejudicial para os trabalhadores brasileiros a estrutura sindical imposta pelo governo de Getúlio Vargas.  

Dr. Mário então decidiu que dedicaria a sua vida a causas trabalhistas, defendendo os interesses dos trabalhadores e de organizações sindicais. 

Contato com os queixadas
Ao lado de João Breno, Mário Carvalho de Jesus esteve à frente da luta queixada

Foto: AEL/UNICAMP

O advogado foi procurado por operários do Sindicato dos Trabalhadores do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo, funcionários da Indústria de Cimento Portland, para defendê-los juridicamente contra as práticas do empresário J.J Abdalla. 

Ele expôs para os operários que ganhar a causa trabalhista não evitaria que Abdalla continuasse cometendo injustiças. Então, propôs que lutassem contra o que causava essa realidade.

Os sindicalistas, entre eles João Breno Pinto, aceitaram o desafio. Inclusive, ao lado do seu amigo Breno (e de outras pessoas), Mário esteve entre os fundadores da FNT – Frente Nacional do Trabalho, em 1960. 

“A experiência concreta do dia a dia nos ensina que o trabalhador – embora tido como fraco, indeciso, indiferente – pode transformar-se num forte, se puder contar com o testemunho dos que fazem com ele, e não para ele”, disse o advogado trabalhista. 

A militância de Dr. Mário, sem dúvidas, fortaleceu a organização sindical dos Queixadas. 

As experiências dos Queixadas – de lutas e vitórias – se tornaram conhecidas em outras classes trabalhadoras, que passaram a procurar o Movimento Queixada para unificar forças. 

“Unidos, conseguiremos o que está na lei e até um pouco mais; unidos, poderemos até mudar a lei. Desunidos, não conseguiremos nem o que está na lei. O que falar então no que diz respeito à transformação da sociedade desigual em que vivemos, numa sociedade igualitária?”, questionou o Dr. Mário. 

União e Firmeza Permanente

Doutor Mário conheceu a não-violência ativa em 1962, quando recebeu – junto com os operários da Perus – a visita de Jean e Hildegaard Fosse, militantes do Movimento Internacional de Reconciliação.

O advogado contribuiu para a aproximação de setores da hierarquia católica e as lutas em defesa dos direitos humanos. Desse modo, a não-violência ativa alcançou outras igrejas cristãs. 

Frente à repressão do período da ditadura militar, Mário foi o principal articulador do processo que levou à fundação do Secretariado Nacional Justiça e Não-Violência, em 1978. 

Mário Carvalho de Jesus morreu em 14 de dezembro de 1995. 

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