Saiba quem foi José João Abdalla, o mau patrão

José João Abdalla – filho de João Abdalla e de Amélia Félix Abdalla – nasceu em Aparecida do Norte, no interior de São Paulo, em 16 de setembro de 1903.

Médico formado pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, começou a trabalhar em Birigüi (SP), município onde foi presidente da Câmara Municipal antes do regime do Estado Novo. Inclusive, durante esse período, foi nomeado prefeito de Birigui pelo interventor paulista Ademar de Barros.

Foi um dos fundadores do Partido Social Democrático (PSD), pelo qual foi eleito deputado em 1946. Esteve no mandato até 1948, quando assumiu a Secretaria do Trabalho, Indústria e Comércio de São Paulo, que era governado por Ademar de Barros. 

Nesta época, comprou a Companhia de Cimento Portland Perus do grupo canadense Drysdale & Pease. A compra foi vista como maus olhos pelos jornais da época e qualificada como fraudulenta. Desde então, J.J. Abdalla foi expandindo seus negócios, por meio de empresas das áreas industrial, financeira e agropecuária. Paralelamente, continuou sua carreira política, estando na Câmara até 1964, quando seu mandato foi cassado pelo regime militar. 

Também era dono da Fábrica de Papel Carioca e da Lanifício Paulista, em Jundiaí (SP), da fábrica de tecidos Japi, em Americana (SP) e das indústrias Carioba, também no interior do estado de São Paulo. Sua atividade empresarial se estendeu para indústria açucareira, de cal e cálcio, de manteiga, de artefatos de ferro, distribuição de óleos, seguros e exportação e importação.

Ao longo de 30 anos de atividade, J.J. Abdalla travou inúmeras lutas com a justiça, o que resultou em cerca de 12 habeas-corpus e mais de 500 processos. Conhecido como mau-patrão (conforme nomeado pela imprensa da época), as empresas dirigidas por Abdalla colecionavam irregularidades trabalhistas.

Os baixos salários, as longas jornadas, as condições insalubres de trabalho, entre outros motivos, deram origem à Greve de 7 anos, a maior da história sindical do Brasil, protagonizada pelos Queixadas – operários grevistas da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus.

Iniciada em 1962, a greve terminou em 1969 e Abdalla foi obrigado a  indenizar os trabalhadores. Paralelamente a isso, o governo brasileiro descobriu – também em 1969 – que as empresas do Grupo Abdalla não recolhiam impostos regularmente, culminando em várias prisões (1969, 1973 e 1975) e confiscos de seus bens (1964, 1973, 1975 e 1976).

Por falta de respeito às leis trabalhistas, as empresas de J. J. Abdalla foram paralisadas muitas vezes por movimentos grevistas. Ele era casado com Rosa Abdalla e faleceu na cidade de São Paulo, em 13 de outubro de 1988.

Questões judiciais

1944 – em Andradina, no interior de São Paulo, Abdalla é indiciado por transporte clandestino de gasolina e por crime contra a economia popular. No mesmo ano, em Penápolis (SP), foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. 

1959 – foi indiciado em São Paulo por crime de apropriação indébita.

1965 – por determinação Ministério do Trabalho, foram instaurados vários processos para investigar as irregularidades praticadas por Abdalla. Na mesma época, o Ministério da Indústria e Comércio determinou a intervenção na Companhia Urano de Capitalização, uma das empresas do Grupo Abdalla. 

1966 – a delegacia de polícia de Pirajaí (SP) indiciou Abdalla em inquérito policial por infração à lei de greve. 

1969 – ficou constatado que, através da holding Cibrape, suas 32 empresas não pagavam impostos. Ele foi processado e preso.

1973 – J.J. Abdalla teve sete de suas empresas confiscadas, entre elas a Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus. No entanto, por meio de manobras jurídicas,  ele conseguiu impedir a ação da justiça contra uma dessas empresas, uma pedreira, cuja propriedade transferiu para a Socal S.A., outra firma de seu grupo.

1975 – o presidente da República Ernesto Geisel decretou, com base no Ato Institucional nº 5, o confisco de outros bens de J. J. Abdalla. O confisco serviu para saldar dívidas que ele tinha com os poderes públicos. 

1976 – foram confiscadas do grupo Abdalla as empresas Potassa e Adubos Químicos do Brasil S.A., Fábrica de Tecidos Carioba S.A. e Central de Imóveis e Construções, todas sediadas em São Paulo. 

Família e fortuna

Filho de J.J Abdalla e Rosa Abdalla, José João Abdalla Filho, também conhecido como Juca Abdalla, é bilionário e uma das pessoas mais ricas do Brasil. 

Após a morte de J.J. Abdalla em 1988, José João Abdalla Filho herdou todos os negócios do pai.

Em 2001, ganhou uma briga judicial iniciada em 1989, quando o governador de São Paulo, Orestes Quércia, desapropriou uma área de mais de 700 mil m² pertencente a Juca Abdalla, onde hoje está localizado o Parque Villa Lobos. 

O governo pagou uma multa de mais de R $2,5 bilhões para Juca Abdalla.