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"O não cumprimento da legislação trabalhista e o não respeito aos direitos dos trabalhadores foram os principais motivos da greve iniciada em 14 de maio 1962 por funcionários de cinco fábricas comandadas por José João Abdalla: Usina Miranda (Pirajuí), Fábrica de Tecidos Japy (Jundiai), Fábrica de Papel Carioca (São Paulo), COPASE - Cia.Paulista de Celulose (Cajamar) e a Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus. Em um trabalho conjunto, os sindicatos - de diferentes áreas - conseguiram articular a paralisação de aproximadamente 3500 funcionários das empresas de J.J Abdalla. De acordo com o pacto feito, as fábricas só retornariam ao trabalho juntas. Os operários da “Perus” tinham as seguintes reivindicações: - Devolução da verba para casa própria - Em novembro de 1960, J.J. Abdalla firmou um contrato coletivo com os trabalhadores acertando um desconto de 5% na folha de pagamento mediante a sua obrigação de lotear uma área no período de seis meses. O patrão não cumpriu o acordo. - Recebimento do prêmio coletivo quando a produção estivesse acima da meta - um acordo foi fechado em 1961 entre o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo e J.J Abdalla, porém mesmo com a meta batida diversas vezes, o prêmio nunca foi pago. - Cumprimento de lei - A partir do 10º dia útil do mês, a cada hora esperada pelo pagamento, além do expediente, corresponderia a uma multa. - Pagamento de taxa de insalubridade fixada em 10%. - Registro de 70 empregados que trabalhavam no corte do eucalipto utilizado na fábrica e que não tinham carteira assinada. Após negociação individual com J.J.Abdalla, todas as empresas quebraram o acordo, no 32º dia de greve. Somente a “Cimento Perus” seguiu paralisada. “Fura greve” e repressão policial - Em agosto de 1962, uma campanha contra a greve, apoiada pela deputada Conceição da Costa Neves, líder trabalhista na Assembleia Legislativa, na qual Abdalla era presidente, foi iniciada. Neves acusou os trabalhadores de comunistas e alegou que os sindicalistas estavam impedindo os “trabalhadores honestos” de voltarem ao emprego. Neste contexto, houve a promessa de antecipação de 30% do salário dos trabalhadores que “furassem” a greve. No dia 21 de agosto, cerca de 15% dos trabalhadores paralisados (mais de 100), a maioria com cargos de chefia, furou a greve. Os trabalhadores que furaram a greve foram obrigados a trabalhar 24 horas seguidas por conta da baixa produção. Um deles, Ferdinando Frisk, morreu por excesso de trabalho. Ainda em 21 de agosto, foi formado um cerco policial para acabar com a greve. Aproximadamente 50 agentes do DOPS, invadiram o Sindicato Queixada e arrombaram gavetas e estantes. Roubaram documentos e agrediram pessoas que estavam no local ou que tentaram interferir. Na noite seguinte houve ataque aos piquetes. Em setembro, o DOPS cercou toda a área ocupada pela Fábrica, incluindo a casa de funcionários, isolando 180 famílias. Os policiais invadiam, em plena madrugada, ameaçando as famílias queixadas. Novos trabalhos - Quatro meses após o início da paralisação, devido à falta de renda dos grevistas e aos poucos recursos para o sustento de suas famílias, a direção do movimento orientou que os trabalhadores buscassem novos empregos. Foi acordado em assembleia que os trabalhadores deveriam tirar uma nova carteira de trabalho, já que a primeira estava presa na justiça. Com o passar dos anos, a greve foi se redesenhando. Sem piquetes, os Queixadas realizavam assembleias, quase semanais, que eram frequentadas pelos trabalhadores e por suas famílias. Ditadura militar - O golpe militar, em 1964, marcou uma fase de intensa repressão para os trabalhadores. O Sindicato dos Queixadas foi o primeiro a sofrer intervenção, em 31 de março. O chefe do departamento pessoal da fábrica foi designado interventor. Mário Carvalho de Jesus foi imediatamente demitido. Lideranças, como Mário e João Breno, foram presas. Mesmo fora do sindicato, eles continuaram defendendo os queixadas. O acompanhamento dos processos continuou, mesmo sem poder contar com o sindicato como instrumento de luta. No entanto,o contato coletivo com os trabalhadores se tornava cada dia mais difícil. Nesta época, a greve era sustentada, basicamente em nível jurídico, já que a participação política dos grevistas era impossibilitada pela ditadura militar. Processos jurídicos - Três processos estavam em andamento, um dos trabalhadores estáveis (com 10 anos de casa no início da greve) e dois dos não estáveis. Durante cinco anos, os grevistas utilizaram todos os recursos jurídicos possíveis para ganhar os processos. Dos três processos, um foi perdido. Os trabalhadores estáveis (501) receberiam os salários retroativos referentes aos sete anos de paralisação. Destes, apenas 309 voltaram para trabalhar na Fábrica, em janeiro de 1969. Uma parte dos não estáveis ganhou, porém a outra perdeu. O juiz alegou que os não estáveis que ficaram de fora haviam cometido falta grave. Por volta de 400 trabalhadores não foram indenizados. Ainda em 1969, os trabalhadores reintegrados à Fábrica se organizaram para conseguir uma indenização para os companheiros que ficaram de fora por meio do aumento da produção. Porém, um pouco antes, em dezembro de 1968, o governo decretou o Ato Institucional nº 5 e a repressão desarticulou o movimento. Novamente alguns membros do sindicato, e também da FNT - Frente Nacional do Trabalho, foram presos: João Breno, Mário Carvalho de Jesus, Zacarias Oliveira, entre outros. Indenização - Embora a justiça tivesse dado causa ganha aos Queixadas, J.J. Abdalla não tinha previsão de pagamento dos salários dos operários estáveis. Neste contexto, a FNT continuou a denunciar crimes e fraudes de Abdalla, que também era investigado pelo governo, pela gestão fraudulenta da Usina Miranda (empresa do grupo que teve falência decretada em 4 de abril de 1967). A repercussão foi tão grande que em julho de 1973, o sindicato sofre uma segunda intervenção. Desta vez, Mário Carvalho de Jesus foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Como resposta, a FNT fez uma denúncia à Organização Internacional do Trabalho (OIT). A persistência dos queixadas levou o governo federal - de Emílio Garrastazu Médici - a confiscar a fábrica, em julho de 1973. Neste mesmo ano, a empresa anuncia falência. Em outubro de 1974, é decretado o pagamento dos grevistas. Porém, com a fábrica falida, a União paga mais de 18 milhões de cruzeiros aos operários estáveis. O dinheiro foi depositado somente em novembro de 1975. Ao receberem os grevistas estáveis decidiram que ajudariam os trabalhadores que perderam o processo: doaram 10% da quantia total para os seus companheiros de luta. Os operários receberam seus salários atrasados sob a luz de velas, pois o sindicato ainda estava sob intervenção. "
Greve de 7 anos
Miniatura
AEL - Unicamp
Datas-limite
1962 - 1969
Local de origem
Perus - SP
Sobre
"O não cumprimento da legislação trabalhista e o não respeito aos direitos dos trabalhadores foram os principais motivos da greve iniciada em 14 de maio 1962 por funcionários de cinco fábricas comandadas por José João Abdalla: Usina Miranda (Pirajuí), Fábrica de Tecidos Japy (Jundiai), Fábrica de Papel Carioca (São Paulo), COPASE - Cia.Paulista de Celulose (Cajamar) e a Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus.
Em um trabalho conjunto, os sindicatos - de diferentes áreas - conseguiram articular a paralisação de aproximadamente 3500 funcionários das empresas de J.J Abdalla. De acordo com o pacto feito, as fábricas só retornariam ao trabalho juntas.
Os operários da “Perus” tinham as seguintes reivindicações:
- Devolução da verba para casa própria - Em novembro de 1960, J.J. Abdalla firmou um contrato coletivo com os trabalhadores acertando um desconto de 5% na folha de pagamento mediante a sua obrigação de lotear uma área no período de seis meses. O patrão não cumpriu o acordo.
- Recebimento do prêmio coletivo quando a produção estivesse acima da meta - um acordo foi fechado em 1961 entre o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo e J.J Abdalla, porém mesmo com a meta batida diversas vezes, o prêmio nunca foi pago.
- Cumprimento de lei - A partir do 10º dia útil do mês, a cada hora esperada pelo pagamento, além do expediente, corresponderia a uma multa.
- Pagamento de taxa de insalubridade fixada em 10%.
- Registro de 70 empregados que trabalhavam no corte do eucalipto utilizado na fábrica e que não tinham carteira assinada.
Após negociação individual com J.J.Abdalla, todas as empresas quebraram o acordo, no 32º dia de greve. Somente a “Cimento Perus” seguiu paralisada.
“Fura greve” e repressão policial - Em agosto de 1962, uma campanha contra a greve, apoiada pela deputada Conceição da Costa Neves, líder trabalhista na Assembleia Legislativa, na qual Abdalla era presidente, foi iniciada. Neves acusou os trabalhadores de comunistas e alegou que os sindicalistas estavam impedindo os “trabalhadores honestos” de voltarem ao emprego.
Neste contexto, houve a promessa de antecipação de 30% do salário dos trabalhadores que “furassem” a greve. No dia 21 de agosto, cerca de 15% dos trabalhadores paralisados (mais de 100), a maioria com cargos de chefia, furou a greve.
Os trabalhadores que furaram a greve foram obrigados a trabalhar 24 horas seguidas por conta da baixa produção. Um deles, Ferdinando Frisk, morreu por excesso de trabalho.
Ainda em 21 de agosto, foi formado um cerco policial para acabar com a greve. Aproximadamente 50 agentes do DOPS, invadiram o Sindicato Queixada e arrombaram gavetas e estantes. Roubaram documentos e agrediram pessoas que estavam no local ou que tentaram interferir. Na noite seguinte houve ataque aos piquetes.
Em setembro, o DOPS cercou toda a área ocupada pela Fábrica, incluindo a casa de funcionários, isolando 180 famílias. Os policiais invadiam, em plena madrugada, ameaçando as famílias queixadas.
Novos trabalhos - Quatro meses após o início da paralisação, devido à falta de renda dos grevistas e aos poucos recursos para o sustento de suas famílias, a direção do movimento orientou que os trabalhadores buscassem novos empregos.
Foi acordado em assembleia que os trabalhadores deveriam tirar uma nova carteira de trabalho, já que a primeira estava presa na justiça.
Com o passar dos anos, a greve foi se redesenhando. Sem piquetes, os Queixadas realizavam assembleias, quase semanais, que eram frequentadas pelos trabalhadores e por suas famílias.
Ditadura militar - O golpe militar, em 1964, marcou uma fase de intensa repressão para os trabalhadores. O Sindicato dos Queixadas foi o primeiro a sofrer intervenção, em 31 de março. O chefe do departamento pessoal da fábrica foi designado interventor. Mário Carvalho de Jesus foi imediatamente demitido. Lideranças, como Mário e João Breno, foram presas. Mesmo fora do sindicato, eles continuaram defendendo os queixadas.
O acompanhamento dos processos continuou, mesmo sem poder contar com o sindicato como instrumento de luta. No entanto,o contato coletivo com os trabalhadores se tornava cada dia mais difícil.
Nesta época, a greve era sustentada, basicamente em nível jurídico, já que a participação política dos grevistas era impossibilitada pela ditadura militar.
Processos jurídicos - Três processos estavam em andamento, um dos trabalhadores estáveis (com 10 anos de casa no início da greve) e dois dos não estáveis.
Durante cinco anos, os grevistas utilizaram todos os recursos jurídicos possíveis para ganhar os processos. Dos três processos, um foi perdido. Os trabalhadores estáveis (501) receberiam os salários retroativos referentes aos sete anos de paralisação. Destes, apenas 309 voltaram para trabalhar na Fábrica, em janeiro de 1969.
Uma parte dos não estáveis ganhou, porém a outra perdeu. O juiz alegou que os não estáveis que ficaram de fora haviam cometido falta grave. Por volta de 400 trabalhadores não foram indenizados.
Ainda em 1969, os trabalhadores reintegrados à Fábrica se organizaram para conseguir uma indenização para os companheiros que ficaram de fora por meio do aumento da produção. Porém, um pouco antes, em dezembro de 1968, o governo decretou o Ato Institucional nº 5 e a repressão desarticulou o movimento.
Novamente alguns membros do sindicato, e também da FNT - Frente Nacional do Trabalho, foram presos: João Breno, Mário Carvalho de Jesus, Zacarias Oliveira, entre outros.
Indenização - Embora a justiça tivesse dado causa ganha aos Queixadas, J.J. Abdalla não tinha previsão de pagamento dos salários dos operários estáveis.
Neste contexto, a FNT continuou a denunciar crimes e fraudes de Abdalla, que também era investigado pelo governo, pela gestão fraudulenta da Usina Miranda (empresa do grupo que teve falência decretada em 4 de abril de 1967).
A repercussão foi tão grande que em julho de 1973, o sindicato sofre uma segunda intervenção. Desta vez, Mário Carvalho de Jesus foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Como resposta, a FNT fez uma denúncia à Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A persistência dos queixadas levou o governo federal - de Emílio Garrastazu Médici - a confiscar a fábrica, em julho de 1973. Neste mesmo ano, a empresa anuncia falência.
Em outubro de 1974, é decretado o pagamento dos grevistas. Porém, com a fábrica falida, a União paga mais de 18 milhões de cruzeiros aos operários estáveis. O dinheiro foi depositado somente em novembro de 1975.
Ao receberem os grevistas estáveis decidiram que ajudariam os trabalhadores que perderam o processo: doaram 10% da quantia total para os seus companheiros de luta. Os operários receberam seus salários atrasados sob a luz de velas, pois o sindicato ainda estava sob intervenção.
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Referências utilizadas no texto "Sobre"
Moreira, Jéssica ; Gould, Larissa. Queixadas: por trás dos 7 anos de greve | FNT. A Greve de Perus. Coleção Frente Nacional dos Trabalhadores . Cadernos de Formação. 1980
Nome utilizado nos documentos do CMQ
Greve de 7 anos
Outras formas de nome para este mesmo verbete
Greve dos Queixadas | Greve dos 7 anos | Grande Greve
Documentos de Coleções e Fundos
Entidades Coletivas Relacionadas
Frente Nacional dos Trabalhadores (FNT) | Grupo J J Abdalla | Movimento dos Queixadas | Sindicato dos Trabalhadores na Industria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo
Entidades Individuais Relacionadas
Abdalla, José João | Jesus, Mário Carvalho de | Oliveira, Zacarias de | Pinto, João Breno
Lugares Relacionados
Eventos Relacionados
Assuntos Relacionados
Bens confiscados | Firmeza Permanente | Movimento operário > Greve | Movimento operário | Movimento operário > Queixadas | Movimento operário > Sindicalismo
Autor(es) e Data de Produção/Atualização
Autor(a)/Revisora
Sheila Moreira
Data de Produção/Revisão
11/05/2022